O que é real nas primeiras evidências acerca do homem primitivo?

O presente artigo busca traçar um panorama histórico-crítico acerca de diversas descobertas científicas que afirmam ter encontrado achados arqueológicos que comprovem a existência passada do homem primitivo. Tal busca ficou comumente conhecida através da nomenclatura “a busca do elo perdido”, sendo ela a maior argumentação possível a ser provida pela arqueologia, visando a corroboração da teoria evolucionista, como defendida originalmente por Charles Darwin. O artigo se propõe verificar se as primeiras evidências apresentadas podem ser consideradas conclusivas ou se haveria a necessidade de se continuar as buscas por tais evidências.

A série de desenhos em progressão, que apresenta a evolução de um pequeno símio quadrúpede, o qual, à medida que cresce, modifica sua estrutura anatômica até se tornar bípede e de corpo ereto como um ser humano moderno, tem estado presente em livros e revistas de toda gama de manifestações literárias, como expressão verdadeira sobre a origem humana. Pela forma como se faz a divulgação dessa série de desenhos, os leitores, na sua maioria, aceitam essa iconografia moderna e até acreditam que as formas esqueléticas desses modelos encontram-se completas, enriquecendo os acervos dos museus do mundo.

Esses desenhos, na realidade, não são a reprodução de restos fossilizados, cujos vestígios estariam expostos em algum lugar de pesquisa ou de visita famoso do mundo. Esses desenhos não são outra coisa senão fruto da imaginação de artistas que receberam sugestões de diversos cientistas, sobre como teria sido a evolução de um símio, através dos séculos, até se transformar no ser humano moderno. Devemos ainda asseverar que esses desenhos são uma tentativa de rejeitar a origem da humanidade, mediante um processo de criação, como é relatado no Gênesis, primeiro livro da Bíblia; e mais ainda, de procurar explicar esse fato através de um imaginário mecanismo de transformação gradual e contínuo, que aconteceu supostamente ao longo de milhões e milhões de anos.

Desde que a ideia de transformação ficou patente na mente de alguns cientistas, o desejo de justificar essa possível realidade levou muitas personalidades do mundo científico a procurar provas objetivas para demonstrar essa teoria. Muitos vestígios foram encontrados em diferentes partes do mundo e, após serem analisados, receberam o qualificativo de evidências fidedignas da evolução humana.1 Esses pareceres, emitidos em forma positiva, levaram muitos acadêmicos e professores que atuam em todos os níveis de formação educacional, a refletir, para seus discípulos, com a fidelidade da luz que incide na superfície de um objeto espelhado, a ideia de que esses vestígios já demonstram a evolução humana. No entanto, a análise dessas presumíveis evidências não justificam tais asseverações e, contrariamente, a realidade é outra e a verdade é oposta, conforme veremos a seguir.

O homem das cavernas

Pelos anais da história da ciência, se considera que George Buffon, célebre naturalista francês e principal autor da coleção de 44 volumes da Histoire naturelle, foi quem reconheceu, em 1749, com a autoridade de um cientista, a semelhança estrutural do ser humano com o macaco (CLARK, 1977, p. 144).2 Meio século mais tarde, outro cientista francês, o marquês Jean de Lamark, afirmou, na sua obra Filosofia zoológica, publicada em 1809 3, que o homem descendeu do macaco através de um processo de transformação que ele mesmo denominou de continuum filogenético. Através dessas afirmações, consideradas valiosas por serem emitidas por autoridades universalmente reconhecidas no campo das ciências, parecia estar estabelecida a teoria da evolução humana. A partir dessas assertivas, muitos cientistas, principalmente antropólogos, dedicaram parte da sua existência à procura de provas objetivas para demonstrar que o ser humano é, evolutivamente, descendente dos macacos. Essa procura, considerada uma atividade positiva, em muitos meios acadêmicos, recebe o utópico nome de a “busca do elo perdido”.

Foram muitas as tentativas de descobrir o “elo perdido”, ou seja, vestígios da suposta transformação do organismo de um símio no ser humano primitivo. Em 1833, por exemplo, foi descoberta na França a primeira caverna com indícios de ter sido habitada. Alguns instrumentos de pedra, não muito bem definidos, achados no lugar, revelariam a presença do homem primitivo; ou seja, do homem não completamente evoluído e que teria muitas características de símio. Essa teoria, no entanto, foi desconsiderada nos meios acadêmicos por falta de definição dos indícios.

Alguns anos mais tarde, em 1848, no estreito de Gibraltar, foi achado um crânio fraturado, sobre o qual se emitiram opiniões otimistas no sentido de pertencer ao homem das cavernas. O entusiasmo não teve muita duração, pois o interesse despertado, não foi maior do que a definição de que esse vestígio, não passava de ser simplesmente um crânio deformado.

Em 1856, ocorreu o primeiro achado considerado nos meios científicos como importante para provar a transformação evolutiva do ser humano. Foi na Alemanha, nas proximidades do rio Dussel, no vale de Neander, onde foram encontrados ossos deformados que alguns observadores insinuaram serem vestígios pertencentes ao homem de Neanderthal.

A doença do Homem de Neanderthal

Os restos de ossos encontrados na caverna junto ao rio Dussel eram na sua maioria parecidos aos de um ser humano moderno, embora apresentando formatos e tamanhos diferentes. As primeiras informações pareciam ser positivas, pois afirmavam que os vestígios encontrados pertenciam ao homem primitivo. Logo após esse achado, duas autoridades em antropologia, os franceses Marcellin Boule, diretor do Instituto Francês de Patologia Humana, e Henri Vallois, editor da conceituada Revue d’Antropologie descreveram o corpo do homem de Neanderthal como sendo de pequena estatura, estrutura robusta, cabeça grande e face bem desenvolvida (CLARK, 1977, p. 145). Por mais de quarenta anos essas descrições foram consideradas conclusivas e, pela posição e o nível de autoridade dos que a emitiram, foram também consideradas a última instância na definição dos restos do homem de Neanderthal.

A imprensa sensacionalista da época, contando com a imaginação de hábeis desenhistas, divulgou esses pareceres através de uma série de desenhos demonstrando a transformação evolutiva de um pequeno símio até alcançar a forma humana. No entanto, essas opiniões precipitadas causaram muita confusão nos meios científicos e até mesmo em ambientes tipicamente evolucionistas. Thomas Henry Huxley, o mais fiel e ardoroso defensor das ideias evolucionistas de Darwin, não concordava com as conclusões sobre os vestígios de ossos encontrados nas margens do rio Dussel. Ele negou categoricamente que esses vestígios pertencessem ao homem primitivo, afirmando que “os ossos de Neanderthal representam só uma pequena luz exagerada de uma forma de australianos vivos” (DAVIDHEISER, 1982, p. 331).

Jacob W. Gruber, do Departamento de Antropologia da Universidade Temple, declarou-se cético em relação às conclusões sobre os restos do vale do rio Dussel, e afirmou em 1948: “Quanto mais informação tem vindo sobre o homem do Pleistoceno, os vestígios de Neanderthal tornam–se mais confusos” (DAVIDHEISER, 1982, p. 330). Por outro lado, o paleontólogo W. E. Le Gros Clark manifestou uma posição mais definida sobre os restos de ossos do ser humano primitivo afirmando que o homem de Neanderthal “não deveria ser considerado como nenhum outro espécime, senão Homo sapiens” (CLARK, 1977, p. 147).

Essas conclusões, no entanto, não foram manifestações isoladas e únicas. A literatura científica relata que outros dois antropólogos, C. Arambourg e E. Pattie, publicaram independentemente seus estudos no mesmo tempo que faziam Straus e Cave, havendo chegado à mesma conclusão (DAVIDHEISER, 1982, p. 332). Esses estudos definiam, em forma conclusiva, que os ossos encontrados no vale de Neander não correspondem ao homem primitivo, mas a um ser humano moderno, cujos ossos sofreram deformação devido a uma doença degenerativa.

As opiniões de outros especialistas reafirmam que os ossos do homem de Neanderthal não são de um humano pré-histórico, mas de alguém moderno, vitimado por uma doença degenerativa nos ossos. Existem também outras opiniões que, mesmo não reconhecendo que a deformação seja causada por doença degenerativa, não admitem, no entanto, que os ossos sejam pertencentes ao homem primitivo. Earnest Albert Hooton (1946, p. 338) acredita que esses ossos poderiam pertencer a um ser humano com características físicas muito semelhantes aos aborígines australianos. Theodore McCown (1950, p. 92), por sua vez, sugere que esses vestígios poderiam pertencer a um indivíduo humano, especificado como uma subespécie (raça ou variedade) de Homo sapiens. A terminologia usada por McCown revela claramente a possibilidade de existir um mecanismo contrário à transformação progressiva dos seres vivos. Esse mecanismo teria a função, em certas circunstâncias, de provocar a degeneração das estruturas anatômicas dos indivíduos.

A controvérsia sobre o Homem de Java

Em 1890, o jovem e eminente professor Eugène Dubois, renunciou à sua privilegiada posição como conferencista de anatomia da prestigiada Universidade de Amsterdã, viajando imediatamente à ilha de Java, para se dedicar à pesquisa e procura dos restos daquilo que ele considerava o homem primitivo. Um ano após sua chegada, perto da região de Trinil, Java, desenterrou vários ossos de animais e, entre esses, um dente de aspecto estranho que, como inicialmente pensou, seria de um macaco. Mais tarde, à distância de um metro, encontrou um crânio pequeno. Explorações posteriores permitiram encontrar outro dente molar e, a quinze metros de distância, um osso fêmur (DUBOIS, 1935, p. 578–580). Dubois reuniu os ossos encontrados e considerou que todos esses vestígios pertenciam a um mesmo indivíduo. Ao analisar aquele pequeno número de ossos, concluiu que suas características não eram as de um ser humano comum, mas sim de um símio em evolução. Entusiasmado com seus achados e suas primeiras conclusões, fez uma cuidadosa descrição das características desses ossos, e até classificou o espécime dando-lhe o nome científico de Pithecanthropus erectus, ou “homem macaco ereto”.

Com uma bagagem plena de realizações, obtida nas suas pesquisas, não sem despender muito esforço, Dubois voltou para Europa a fim de fazer conhecer seus resultados. Cheio de entusiasmo e certo das suas conclusões, apresentou o relatório do seu achado no 3° Congresso Internacional de Zoologia, realizado em 1895, na cidade de Leiden, diante de uma platéia de cientistas que previamente duvidavam da autenticidade e do que representavam esses vestígios (DAVIDHEISER, 1982, p. 334). Apesar do empenho manifestado por Dubois na apresentação da sua descoberta, a maioria dos cientistas considerou que os ossos pertenciam a uma classe de macacos, talvez um gibão (DAVIDHEISER, 1982, p. 335). Diante dessas opiniões antagônicas e da rejeição generalizada às suas conclusões, Dubois manifestou-se contrariado, não conseguindo esconder a profunda frustração que sentia. Essa sensação de derrota foi de tal magnitude na consciência de Dubois, que decidiu isolar-se do mundo científico, escondendo os presumíveis ossos do homem primitivo durante 28 anos.

No decorrer do tempo, no entanto, alguns cientistas, analisando o relatório que fora apresentado por Dubois, mudaram de opinião e começaram a sustentar a ideia de que os vestígios encontrados em Java eram de fato do homem primitivo. Bateram às portas da residência do pesquisador, desejando observar esses ossos mais de perto, para reafirmar o seu parecer. Mas, de forma insólita, Dubois respondeu que ele próprio já não podia sustentar a opinião original e, finalmente, admitiu que o Pithecanthropus erectus podia ser um gibão gigante e não um ancestral do ser humano (KLOTZ, 1970, p. 343).

Anos mais tarde, o paleontólogo alemão Gustav von Koenigswald, em 1937, definiu que os restos do Pithecanthropus erectus pertenciam originalmente a uma raça de seres humanos que, por causas fisiológicas ou genéticas, sofreram degeneração, o que explicaria a deformação óssea presente nesses vestígios (MARSH, 1967, p. 207). Mais recentemente, o Dr. Kraus, ao definir sua posição sobre o homem de Java, baseado nos vestígios encontrados, emitiu uma comparação ao respeito, asseverando que, se o filho de um Pithecanthropus nascesse e crescesse no mundo moderno, “ele não agiria melhor ou pior do que uma criança Homo sapiens” (KLOTZ, 1970, p. 344).

Piltdown e as evidências de uma fraude
Em 1911, durante trabalhos realizados num poço localizado junto à estrada de Barkham Manor, no condado de Sussex, Inglaterra, o advogado Charles Dawson e Sir Arthur Smith Woodward, do Departamento de Geologia e Paleontologia do Museu Britânico, encontraram vários fragmentos de ossos petrificados de formatos curiosos. Pelas primeiras observações, os autores dessa descoberta acreditaram que os ossos pertenceriam a um tipo de homem pré-histórico. Durante os meses seguintes, graças ao estudo mais dedicado e avaliação cuidadosa, chegaram a resultados que os conduziu à confirmação das opiniões anteriores. Com essas conclusões, prepararam um relatório das suas descobertas, o qual foi apresentado diante de um auditório de notáveis cientistas, em dezembro de 1912, na sala da Sociedade de Geologia da Inglaterra (DAVIDHEISER, 1982, p. 340).

Os autores expuseram os vestígios afirmando pertencer ao “Homem de Piltdown”. Os fragmentos incluíam o lado esquerdo do osso frontal, quase todo o lado esquerdo do osso parietal, 2/3 de partes do parietal direito, a parte inferior do occipital, a metade direita do maxilar inferior com alguns dentes, sobressaindo um proeminente canino (KLOTZ, 1970, p. 351).

Inicialmente, muitos cientistas duvidaram de que o maxilar fizesse parte do crânio. Dentre eles, doutores Waterston, Boule, Miller e Ramstron desconfiaram da autenticidade do material apresentado e levantaram a suspeita de tratar-se de uma fraude (STRAUS,1954, p. 265–269; WYSONG, 1981, p. 296). Mas a argumentação favorável foi convincente e o relatório aprovado. A partir desse momento, a descrição dos vestígios do “Homem de Piltdown” foi considerada suficiente e prova clássica da evolução humana. Assim, esse conceito foi exposto sem reservas nas revistas populares e nos textos de ensino de todos os níveis, fazendo parte dos conteúdos curriculares durante os 40 anos seguintes.

O dia 21 de novembro de 1953 registrou no campo da ciência, principalmente no círculo do evolucionismo, um evento com os efeitos de um cataclismo. Nesse dia foi anunciada ao mundo a grande fraude cometida em relação à veracidade sobre o Homem de Piltdown. Muitas análises permitiram chegar a essa conclusão. As provas eram numerosas e não deixavam lugar para dúvidas. O dente canino havia sido colocado artificialmente por meio do uso de substâncias abrasivas, de maneira tal que aparentasse ser um dente humano. Além disso, foi notório o descuido cometido na colocação dos outros dentes; as pontas eram aplanadas, mas dispostas em ângulos diferentes (DAVIDHEISER, 1982, p. 342). Utilizando a técnica do Fluorine chegou-se à conclusão de que o crânio era um osso fossilizado, enquanto que o maxilar e o dente claramente mostravam que não haviam sofrido tal processo. Verificou-se também que essas duas estruturas haviam sido artificialmente coloridas, supostamente com a finalidade de assemelhá-las ao crânio (STRAUS, 1954, p. 268) e, dessa maneira, torná-las compatíveis.

As observações que levaram os estudiosos a concluir que os vestígios do suposto “homem de Piltdown” eram na realidade objetos de uma fraude não pararam por aí. Os cientistas Weiner, Oakley e Clark chegaram à conclusão de que o maxilar e o dente eram de um símio moderno, alterados deliberadamente com a finalidade de parecerem fósseis (STRAUS, 1954, p. 266). Um exame dessas estruturas com raios X mostrou que não havia depósitos da dentina secundária, como se esperava que isso acontecesse se o dente fosse gasto naturalmente antes da morte do indivíduo (STRAUS, 1954, p. 269). Clark constatou que fibras colágenas, como as que se observam na superfície de um osso atual, foram achadas em vários segmentos do maxilar do crânio do falso homem de Piltdown, e que o osso que divide a cavidade nasal não é compatível com essa estrutura, pertencendo a algum animal moderno (KLOTZ, 1970, p. 353).

Cabe nestas circunstâncias fazer menção do espírito de franqueza e honestidade que estimulou aqueles especialistas, no momento oportuno, para não hesitar ao proferir suas avaliações, chamando a atenção do mundo científico e do público em geral para o reconhecimento dessa fraude.

O desaparecimento do Homem de Pequim

Na década de 1920, um enorme grupo de cientistas realizou escavações nas cavernas de Chou Kou Tien, perto da cidade de Pequim. Nas paredes internas dessas cavernas haviam sido descobertos desenhos rupestres, o que sem dúvida estimulou vários especialistas a procurar indícios dos autores. A primeira suposição foi que os autores desses desenhos pertenceriam a uma espécie de homem primitivo. Ao longo dessa década, muitos especialistas, algumas vezes em número de cem, dedicaram grande parte de seu tempo em escavações no interior dessas cavernas, procurando vestígios do homem primitivo. Em 1929, foi achado um crânio de tamanho pequeno, e nos dias seguintes, outros objetos, tais como ossos avulsos de formato característico de difícil identificação, alguns implementos de pedra e, sobre uma camada geológica acima das cavernas, foram encontrados esqueletos de animais, como ursos, hienas, tigres, chitas etc. Foram também achados vários esqueletos tipicamente humanos, embora arbitrariamente e por alguma razão não apontada, só tenham sido relatados três indivíduos (CLARK, 1977, p. 149).

O estudo dos restos de ossos encontrados nessas cavernas levou os especialistas a emitir suas primeiras conclusões. A capacidade volumétrica da caixa craniana variava entre 850 cc. a 1.300 cc., relativamente pequena para os padrões do ser humano atual. O tipo dos implementos de pedra encontrados ali foi considerado muito rudimentar. Com essas informações, os pesquisadores não demoraram em confirmar que esses vestígios pertenciam ao um ser humano pré-histórico, o qual foi identificado com o nome de Sinanthropus erectus ou o “Homem de Pequim”.

Alguns antropólogos que participaram das pesquisas de Chou Kou Tien divulgaram informações sobre peculiaridades de comportamento do “Homem de Pequim”. Afirmaram, por exemplo, que esse espécime pré–histórico, gozava de conhecimentos suficientes para produzir fogo e alguma técnica necessária para elaborar artefatos de pedra. Um relatório dado a conhecer em 1938 declarava que a coleção de Sinanthropus chegava a 38 indivíduos fossilizados, incompletos. Estes, na sua maioria, consistiam de fragmentos de maxilares, peças avulsas de crânio e dentes. Analisando os crânios definiu-se que 40% dos mesmos pareciam representar crianças de até 14 anos de idade, três crânios podiam pertencer a adultos menores de 30 anos; três outros a pessoas entre 30 e 40 anos, e um pareceria realmente ser de uma mulher idosa (KLOTZ, 1960, p. 1511).

O paradeiro dos ossos dos supostos homens de Pequim, até o momento, representa um mistério, impossível de ser resolvido. Sabe-se que esses vestígios, por causas não explicadas, foram removidos do lugar onde haviam sido encontrados, evitando dessa maneira sua preservação e também impossibilitando a sua análise e avaliação final. Anos mais tarde, os poucos especialistas que realmente tiveram contato com esses vestígios alegaram que eles desapareceram durante a invasão japonesa à China. Outra versão por eles sustentada é a de que esses ossos se misturaram com os de combatentes da guerra sino-japonesa, o que teria tornado impossível a sua identificação. Até o presente, ninguém mais achou um vestígio sequer semelhante aos do “Homem de Pequim”. Toda informação é dada pelo relatório preparado por alguns dos que participaram nas escavações das cavernas de Chou Kuo Tien não havendo em lugar nenhum, algum objeto, por insignificante que seja, para justificar a existência do Sinanthropus erectus.

Outras buscas pelo homem primitivo
Em 1930, um casal de pesquisadores britânicos, Louis B. Leakey e Mary, iniciou escavações na garganta de Olduvai, na Tanzania, com o objetivo de encontrar vestígios do homem primitivo. Depois de quase 30 anos de sacrificados esforços, em busca do “elo perdido”, no mês de Julho de 1959, enquanto Louis se encontrava convalescente no seu leito, vitimado por uma doença tropical, sua esposa Mary, que prosseguia nas escavações, encontrou um dente humano de aspecto estranho. Entusiasmada, a pesquisadora continuou sua tarefa e achou nas proximidades mais um maxilar de formato singular, com alguns dentes. Cheia de emoção, Mary correu para junto do seu esposo para lhe comunicar que finalmente seus longos e quase infindos esforços haviam sido recompensados: fora encontrado o primeiro indício do homem primitivo.

Aquela notícia certamente representou muito mais do que a comunicação de um fato. O sentimento de realização provocou alívio físico no arqueólogo, e o estimulou a prosseguir em suas pesquisas. Mesmo convalescente, Leakey retomou às escavações. Durante os dezenove dias seguintes o casal acumulou mais de 400 fragmentos de ossos, com os quais, após uma cuidadosa seleção, conseguiu montar, como peças de um quebra-cabeça, um crânio de aspecto peculiar (CLARK, 1977, p. 155).

O crânio formado era pequeno, de apenas 530 cc. de capacidade, e Leakey considerou pertencente a um espécime do homem primitivo, que ele mesmo identificou com o nome de Zinjanthropus boisei. Para conhecer a idade da existência desses vestígios, uma amostra da camada geológica onde se encontravam os mesmos, foi enviada à Universidade da Califórnia para análise radiométrica. Usando a técnica de datação Potásio-Argônio estimou-se que a idade do Zinjanthropus provavelmente seria de 1.750 milhões de anos (KLOTZ, 1970, p. 340). Uma idade incompatível com o período do aparecimento do homem na Terra.

Leakey continuou suas escavações e numa camada mais antiga encontrou peças de um crânio humano de aspecto completamente moderno. No entanto, a idade desse novo crânio foi estimada em 1.800 milhões de anos. Esse fato causou muita confusão na mente de antropólogos e evolucionistas, porque precisavam elucidar o problema de como os restos de um homem de aspecto moderno estavam soterrados em camadas geológicas de formação anterior do que a camada do homem primitivo. Aceitar como real o suposto crânio do Zinjanthropus boisei seria reconhecer que o homem moderno seria mais antigo do que o homem primitivo (MARSH, 1967, p. 209), situação difícil de ser esclarecida.

Outra tentativa de encontrar o “elo perdido” foi efetuada em 1922, quando Harold Cook noticiou a descoberta de vestígios do homem primitivo, cujas características seriam as de um símio com aspectos humanos. O entusiasmo provocado por esse achado foi sem limites, ao ponto de identificar esse espécime com o nome de Hesperopithecus haroldcookii. O inaudito do fato é que a reconstrução imaginária desse modelo pré–histórico foi efetuada na base de um único e simples molar fossilizado. A imprensa da época divulgou a novidade com desenhos imaginários, que exibiam o hominídeo num ambiente primitivo. Mais tarde, especialistas conscientes da sua responsabilidade analisaram essa suposta evidência e chegaram a uma conclusão que terminou com o entusiasmo inicial. A
ideia primeira de que esse único objeto possibilitava demonstrar a existência do homem pré-histórico foi abandonada, não sem constrangimentos, uma vez que descobriram que o dente isolado pertencia a uma espécie de porco já extinta (WINBOLT apud WYSONG, 1981, p. 296).

Considerações finais

No presente, alguns evolucionistas convictos continuam realizando pesquisas e escavações a fim de encontrar os vestígios do símio transformado em homem. A maioria dos evolucionistas, no entanto, apesar das opiniões controversas sobre os diferentes vestígios do homem macaco, com visão um tanto anuviada, ainda mantém suas convicções na descrição teórica e na exposição imaginativa que fez dos restos encontrados o elo que preenche a coluna evolutiva. Outros cientistas evolucionistas preferem ser mais cuidadosos, atuando conscientes de uma realidade que não é favorável ao estabelecimento de uma forma de transição entre um símio e o ser humano, admitindo em forma acanhada, que a “busca do elo perdido” ainda continua.

Referências

1 As supostas evidências do homem primitivo encontram-se amplamente divulgadas em uma gama ampla de textos. Citamos dois, em língua portuguesa: David (1973, p. 1–17) e McAlester (1988, p. 149–163).

2 Pelas suas afirmações, Buffon foi obrigado a se retratar, ameaçado pela igreja dominante (WHITE, 1899, p. 46–47).

3 Segundo Ritland (1970, p. 21) a primeira referência da teoria de Lamark apareceu em 1801.

BIBLIOGRAFIA

CLARK, H. W. The battle over Genesis. Washington: Review and Herald, 1977.

DAVID, P. A evolução do homem. Lisboa: Editora Verbo, 1973.

DAVIDHEISER, B. Evolution and christian faith. Phillipsburg: The Presbyterian and Reformed Publishing Company, 1982.

DUBOIS, E. On the Gibbonlike appearance of Pithecanthropus erectus. Koninklijke Akademie Amsterdam, v. 38, 1935.

HOOTON, E. A. Up from the Ape. Michigan: The Macmillan Company, 1946.

KLOTZ, J. W. Age of Pekin man. Science, v. 131, 1960.

_______. Genes, genesis and evolution. Saint Louis: Concordia Publishing House, 1970.

MACALESTER, A. L. História geológica da vida. São Paulo: Editora Edgard Blucher, 1988.

MARSH, F. L. Life, man and time. Escondido: Outdoor Pictures, 1967.

MCCOWN, T. D. The genus Palaeoanthropus and the problem of superspecific differentiation among the Hominidae. In: COLD Spring Harbor Bio. Lab. Origen
and evolution of man, 1950.

RITLAND, R. A search for meaning in nature. Mountain View: Pacific Press, 1970.

STRAUS, W. L. The great Piltdown Hoax. Science, v. 119, 1954.

WHITE, A. D. Histoire de la lutte entre la science et la theoligie. Paris: Editorial Guillaumin & Cie, 1899.

WYSONG, R. L. The creation, evolution controversy. Michigan: Inquiry Press, 1981.

Artigo de autoria de Ruben Aguilar, Doutor em Arqueologia pela USP. Professor de Teologia no Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp). E-mail: ruben.aguilar@unasp.edu.br


Nenhum comentário:

Postar um comentário