Moda e Arte Através do Tempo

Os motivos que levaram as pessoas a cobrir o corpo e as diferenças nas roupas de cada época são analisados pela professora da UFG Valbene Bezerra.

Desde os tempos mais remotos, a roupa exerce um enorme fascínio nas pessoas. Ainda hoje se especula sobre as razões que levaram o ser humano a cobrir-se, enfeitar-se, embelezar-se para fazer-se atraente aos próprios olhos e diante dos outros. Vários mitos que levaram a essa necessidade foram levantados pela professora Míriam da Costa Manso, do curso 

de Design de Moda, em palestra realizada recentemente, no auditório da Faculdade de Educação, na Praça Universitária. 

A exposição aconteceu dentro do ciclo de palestras Olhares Transversais, promovido pela Faculdade de Artes Visuais da Uni­versidade Federal de Goiás, com término previsto para janeiro, quando será promovida uma me­sa-redonda com alunos e professores para avaliar o projeto.

Através de slides e transparên­cias, Míriam da Costa Manso ilus­trou a explanação traçando um paralelo entre vestuário, moda e arte. Segundo ela, diversas teorias procuram explicar os motivos que levaram as pessoas a cobrir o cor­po. A proteção física, psicológica e moral, o pudor, a ornamentação — que valoriza o corpo muito mais do que a nudez — e a necessidade de abrigo seriam alguns deles. Pará ilustrar, a professora se valeu do exemplo dos índios que pintam o corpo e se cobrem de pe­nas coloridas de pássaros. Hoje, o melhor exemplo é a busca inces­sante da beleza física através das tatuagens, das cirurgias plásticas e da ginástica modeladora.

Nobreza

O rei Luís XIV, da França, foi um dos expoentes da moda. Sua elegância exagerada era imitada por nobres e plebeus. A moda, en­sina Míriam Manso, despontou na segunda metade do século 14, quando surgiu a paixão pelo no­vo, pela originalidade, pela individualidade e pela diferenciação entre os sexos. Só que a forma de vestir-se varia de um povo para outro, diferente de hoje, quando há uma verdadeira padronização. "O mundo inteiro se veste mais ou menos igual", constata a pro­fessora, para quem a moda atual extrapola a rivalidade de classes, prendendo-se mais à qualidade, à originalidade e à procura incessante do novo.

A ascensão dos profissionais da moda ocorreu no final do século 18, quando surgiram as primeiras revistas ilustradas e com perfil próprio. O fenômeno adquire status e desperta a atenção de grandes nomes da literatura mundial como Balzac, Baudelaire, Mallarmé, Maupassant, Proust e outros. Atualmente, diz Míriam, os estilistas fazem verdadeiras obras de arte no corpo dos manequins. "Muitas vezes, as revistas não trazem nada utilitário, mas apenas a proposta artística de cada estilista", salienta a professora de Design de Moda.

Míriam observa que o artista se expressa de diversas maneiras na pintura, na escultura e também na roupa. As primeiras ilustrações das revistas de moda, como a Vogue francesa, eram verdadeiras obras de arte, muitas delas vendidas depois. "Há artistas que não fazem moda, mas utilizam a moda como expressão artística. Eles colocam a moda dentro da arte como material plástico", ressalta Míriam, valendo-se dos trabalhos da artista plástica Pinky Wainer para exemplificar a afirmativa. Outro exemplo citado é do estilista alemão Karl Lagerfeld, que prefere, ele mesmo, fotografar os seus modelos.

Outras épocas

Míriam da Costa Manso mostrou, através de transparências, a maneira de vestir-se de povos antigos como os egípcios, os gregos e os romanos, e também a evolução da moda ao longo do tempo. 'Os romanos, que tinham um sentimento de orgulho muito grande, queriam mostrar poder e vestiam-se de maneira grandiosa. As mulheres romanas tinham paixão pela seda e pela púrpura, uma tintura caríssima para os padrões da época, e se cobriam acessórios dourados para ficarem bonitas. Elas chegaram a provocar problemas de Estado, por causa dos gastos excessivos com roupas.

No período bizantino, homens e mulheres usavam muito brilho, o que acabou por influenciar também a arte. Já na renascença, as formas artísticas foram reproduzidas no vestuário, cuja característica mais marcante são as imensas saias femininas em forma triangular. No barroco, os detalhes se sobressaem. O vestuário é coberto de rendas, laços de fitas, uso incentivado por Luís XIV. Nas roupas, há um certo exagero de rendilhados, já que o objetivo é promo­ver a indústria francesa.

No estilo rococó, a mulher dei­xa de ser deusa para transformar-se apenas em mulher. "Se nos ou­tros períodos o homem é somente um acessório, na época do rococó ele veste-se suntuosamente me­lhor, mas não supera a mulher", esclarece Míriam Manso. Esse era o tempo dás indefectíveis perucas brancas, empoadas, das de espaldar alto para sustentar penteados suntuosos, construídos para cima.

Houve um tempo também em que a cintura da mulher ti­nha de ter 16 polegadas. Era o chamado período romântico, quando as meninas eram amar­radas nos espartilhos, apertados, desconfortáveis, tirados uma vez por semana só para tomar banho, abomináveis para os padrões modernos do século 20, quando a moda ganha novos ares e o corpo passa a ser valorizado de outras formas.

Míriam da Costa Manso lem­bra que a diferença entre vestuá­rio e moda é muito frágil, e chega a ser perigoso fazê-la. "No vestuário, a mudança foi mais superficial. Já na moda, a partir do século 14, tudo mudou", sublinha a professora. Hoje, diz ela, homens e mulheres vestem-se de arte, porque a moda é o projeto do artista. Mas há uma vantagem: cada pessoa compõe o seu vestuário com liberdade, escolhe as peças de sua preferência. "À roupa é a nossa máscara", conclui.

Fonte: Jornal O Popular de 28 de outubro de 1998



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